Em nossa jornada pela vida, especialmente para aqueles que enfrentam desafios físicos como a agenesia de membros, é crucial lembrar que nossa verdadeira essência transcende o corpo físico. Esta compreensão profunda tem sido compartilhada por diversas tradições espirituais ao longo dos séculos. Este texto é um convite para explorarmos juntos a verdadeira essência do ser humano, que vai muito além de nossa forma física. Mas e se eu lhe dissesse que existe muito mais em nós do que os olhos podem ver? Que por trás dessa casca mortal, existe um ser eterno, imortal e infinitamente mais poderoso?
O Homem Visível: A Ilusão da Matéria
Olhemos primeiro para o que chamamos de “homem visível”. Este é o corpo que vemos no espelho todas as manhãs. É a estrutura física que nos permite interagir com o mundo material. Ele cresce, envelhece, adoece e, eventualmente, morre. É frágil, sujeito a dores, limitações e à inevitável decadência do tempo. Este corpo, embora maravilhoso em sua complexidade, é apenas um veículo temporário. É como um carro que usamos para viajar pela estrada da vida. Mas assim como não nos confundimos com nosso automóvel, não deveríamos nos confundir com nosso corpo.
O Homem Invisível: A Verdadeira Essência
Agora, voltemos nosso olhar para o “homem invisível” – a alma, o espírito, a essência que anima o corpo físico. Esta é a parte de nós que transcende a matéria, que não pode ser vista ou tocada, mas que é a verdadeira fonte de nossa consciência, personalidade e individualidade.
Culturas e tradições espirituais ao redor do mundo têm reconhecido há milênios a existência desta parte invisível do ser humano. Vamos explorar como algumas das principais tradições espirituais abordam este conceito:
A Visão Católica
Na tradição católica, a alma é vista como a parte espiritual e imortal do ser humano, criada diretamente por Deus. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a ‘forma’ do corpo; isto é, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano e vivo.”
Na tradição católica, cada ser humano é visto como possuidor de uma dignidade inerente, criado à imagem e semelhança de Deus. A Bíblia, em Gênesis 1:27 (Nova Versão Internacional), afirma: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Este versículo enfatiza que o valor de uma pessoa não está em sua aparência física ou capacidades, mas em sua alma imortal. Como o apóstolo Paulo escreve em 2 Coríntios 4:16-18 (Nova Versão Internacional): “Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.”
Os católicos acreditam que a alma é imortal e que, após a morte, ela é julgada e passa para o céu, purgatório ou inferno, aguardando a ressurreição final dos corpos no fim dos tempos.
A Visão Hindu
Na tradição hindu, o conceito de Atman representa a alma individual, a essência imortal de cada ser. O Atman é considerado idêntico ao Brahman, a realidade última do universo. Os hindus acreditam que esta alma passa por inúmeras encarnações, sempre buscando a libertação final (moksha) e a união com o divino.
Na tradição hindu, o conceito de Atman representa a alma individual, a essência imortal de cada ser. Paramahansa Yogananda, renomado mestre espiritual indiano e autor de “Autobiografia de um Iogue”, enfatiza esta ideia em seus ensinamentos. Em seu livro “O Yoga de Jesus”, Yogananda escreve: “O corpo é apenas um invólucro temporário; a alma é eterna e imutável.” Esta perspectiva oferece um profundo conforto para aqueles que enfrentam limitações físicas, lembrando-nos que nossa verdadeira natureza é completa e perfeita, independentemente da condição do corpo.
Para os hindus, portanto, o corpo físico é apenas um invólucro temporário, enquanto a alma é eterna e imutável. As escrituras védicas afirmam: “Assim como uma pessoa descarta roupas gastas e veste novas, a alma descarta corpos desgastados e entra em novos.”
A Perspectiva Budista
Embora o budismo não acredite em uma alma permanente no mesmo sentido que outras religiões, ele reconhece a existência de uma consciência que continua após a morte. O conceito de anatta (não-eu) ensina que não há um “eu” permanente, mas sim um fluxo contínuo de consciência que se transforma constantemente.
Os budistas acreditam na reencarnação, mas veem isso como um processo de causa e efeito (karma) em vez da transmigração de uma alma fixa. O objetivo final é alcançar o nirvana, um estado de libertação do ciclo de nascimento e morte.
A Primazia do Invisível
Ao contemplarmos estas diferentes perspectivas, uma verdade comum emerge: o invisível é mais fundamental, mais duradouro e mais “real” que o visível. Nossa verdadeira identidade não reside em nossa aparência física, nossa idade ou nossa condição corporal, mas em nossa essência espiritual.
É esta essência invisível que:
- Persiste além da morte: Enquanto o corpo se decompõe, nossa essência continua.
- Não sofre limitações físicas: A alma não envelhece, não adoece, não se cansa.
- É a fonte de nossa individualidade: Nossas memórias, personalidade e consciência residem nesta parte invisível.
- Conecta-nos com o divino: É através desta essência que podemos experimentar a transcendência e a união com o cosmos.
- É o verdadeiro objeto de amor e respeito: Quando amamos alguém, não amamos apenas seu corpo, mas sua essência, seu ser interior.
Vivendo com Consciência do Invisível
Reconhecer a primazia do homem invisível não significa negar ou desprezar o corpo físico. Pelo contrário, significa honrar o corpo como um templo sagrado que abriga nossa essência divina. Significa viver com a consciência de que somos mais do que nossas limitações físicas, mais do que nossas circunstâncias materiais.
Viver com esta consciência nos permite:
- Enfrentar desafios com maior resiliência, sabendo que nossa essência é inabalável.
- Tratar os outros com mais compaixão, reconhecendo a divindade em cada ser.
- Buscar o crescimento espiritual como prioridade, alimentando nossa essência eterna.
- Encontrar paz diante da morte, compreendendo-a como uma transição, não um fim.
Conclusão
Ao final desta reflexão, somos convidados a olhar além do véu da realidade física. A ver em nós mesmos e nos outros não apenas a forma exterior, mas a luz interior que anima cada ser. A Associação Dar a mão vê o brilho de cada pessoa com agenesia além do aspecto físico, material, temporário. Somos convidados a honrar o invisível, a nutrir nossa essência espiritual e a viver com a consciência de nossa verdadeira natureza: eterna, ilimitada e divina.
Que possamos caminhar por este mundo com os pés firmemente plantados na terra, mas com os olhos voltados para o céu, lembrando sempre que somos, em nossa essência mais profunda, seres de luz atravessando uma jornada humana.